Dislexia e seus sintomas
Os sintomas mais comuns da dislexia
1 Desempenho inconstante.
2 Demora na aquisição da leitura e escrita.
3 Lentidão nas tarefas de leitura e escrita, mas não nas orais.
4 Dificuldade com os sons das palavras e, conseqüentemente, com a soletração.
5 Escrita incorreta, com trocas, omissões, junções e aglutinações de fonemas.
6 Dificuldade em associar o som ao símbolo.
7 Dificuldade com a rima (sons iguais no final das palavras) e aliteração (sons iguais no início das palavras).
8 Discrepância entre as realizações acadêmicas, as habilidades lingüísticas e o potencial cognitivo.
9 Dificuldade em associações, como, por exemplo, associar os rótulos aos seus produtos.
10 Dificuldades para organização seqüencial, por exemplo, as letras do alfabeto, os meses do ano, tabuada etc.
11 Dificuldade em nomear objetos, tarefas etc.
12 Dificuldade em organizar-se com o tempo (hora), no espaço (antes e depois) e direção (direita e esquerda).
13 Dificuldade em memorizar números de telefone, mensagens, fazer anotações, ou efetuar alguma tarefa que sobrecarregue a memória imediata.
14 Desconforto ao tomar notas e/ou relutância para escrever.
15 Persistência no mesmo erro, embora conte com ajuda profissional.
Pode suspeitar de um quadro de dislexia, ou quadro de risco, quando apesar de inteligência adequada e oportunidade de ensino e aprendizagem, a pessoa apresenta alguns desses sinais.
Classificação das dificuldades Aapresentadas na dislexia
As autoras Ianhez e Nico (2001), descrevem no livro “Nem sempre é o que parece”, a seguinte classificação, utilizada para nomear os distúrbios derivados da Dislexia.
Disgrafia
É a dificuldade para escrever, ou “desenhar”, as letras, sinais ou conjunto gráfico num espaço determinado. A pessoa com disgrafia pode escrever vagarosamente, com muita dificuldade e ainda assim a letra vai parecer malfeita, ou feia. Pode acontecer ainda de uma pessoa fazer confusão com as letras e as sílabas das palavras, ou escrever de forma espelhada-com as letras ao contrário, ou ainda escrever da direita para esquerda. Se esse problema for um dos sintomas de uma pessoa disléxica, então é um problema de origem congênita.
Disgrafia é um tipo de apraxia que afeta o sistema visual-motor. A apraxia também pode ocorrer no sistema audiomotor, e nesse caso a linguagem falada é afetada. Uma criança com apraxia para a linguagem não é necessariamente apráxica para a escrita. De modo semelhante, a criança com disgrafia não tem necessariamente dificuldade para falar. Muitas crianças com disgrafia procuram compensar em excesso a sua deficiência visual-motora desenvolvendo habilidades auditivas superiores a boa linguagem falada e capacidade de leitura. As crianças com disgrafia não são capazes de escrever.
Disnomia
É a dificuldade em nomear ou reconhecer nomes próprios, de objetos, coisas etc.
Discalculia: problemas com a matemática
Discalculia é a dificuldade (mesmo com inteligência média/normal), ou perda (no caso de lesões) da habilidade para lidar com os números e com as operações matemáticas. Uma dificuldade, geralmente de origem congênita, para lidar com os números (trocas, inversões, omissões etc.) e com os símbolos matemáticos.
Nem todos os disléxicos têm problemas com a matemática. Quando têm, o fenômeno é geralmente denominado acalculia ou discalculia. Muitas dessas dificuldades mais comuns resultam dos métodos utilizados na tentativa de ensinar matemática. Mas o disléxico tem um problema que pode tornar o aprendizado da matemática muito difícil, se não impossível.
A acalculia e a discalculia relacionam-se diretamente com as distorções do sentido do tempo, que são comuns entre crianças disléxicas. Estas distorções ocorrem simultaneamente com desorientações visuais, auditivas e de equilíbrio/movimento.
A desorientação é um companheiro mental constante na vida de crianças disléxicas. À medida que segue pela infância, a percepção distorcida aparece tão freqüentemente quanto a percepção real. Por essa razão a maioria das crianças disléxicas tem fraco sentido de tempo. Crianças comuns percebem o tempo com razoável precisão. Em torno dos sete anos de idade, elas podem fazer uma estimativa razoavelmente apurada da passagem do tempo. Para o disléxico, o tempo nunca foi experimentado de forma consistente. Portanto, estabelecer uma estimativa de sua passagem pode ser impossível.
Sem um sentido inerente de tempo, a compreensão do conceito de sequencia – o modo como as coisas se seguem, uma após a outra seria difícil. Até mesmo o simples contar é uma questão de seqüência. Portanto, o disléxico de sete anos poderia também estar desprovido deste conceito inerente.
Sem os conceitos de tempo e sequencia, é duvidoso que se consiga uma compreensão precisa do conceito de “ordem versus desordem”.
Toda matemática, da simples aritmética ao cálculo astrofísico é composta de ordem (versus desordem), seqüência e tempo. Crianças que possuem um sentido inerente destes três conceitos podem aprender e compreender matemática. Para crianças que não possuem estes conceitos, o aprendizado da matemática se reduz à memorização. Para o disléxico aprender matemática, ele deverá dominar os seguintes princípios básicos:
1. Tempo, significando a mediação de mudança em relação a um padrão.
2. Seqüência, significando que as coisas se seguem, uma após a outra, em quantidade, tamanho, tempo ou importância.
3. Ordem, significando que as coisas estão nos seus lugares apropriados, nas suas posições apropriadas e nas suas condições apropriadas.
Uma vez que estes conceitos tenham sido dominados, pode-se adquirir o domínio do contar com exatidão. A partir daí, aprender aritmética pode transformar-se de uma luta numa alegria.
Uma observação interessante é que matemática e música são compostas dos mesmos elementos: ordem, seqüência e tempo. Apenas são expressas por meios diferentes. Com isso, não deveríamos nos surpreender com o fato de muitos grandes matemáticos também serem excelentes músicos, e vice-versa.
Dispraxia
É a dificuldade na execução de movimentos coordenados, com conseqüente dificuldade em organização espacial, o que pode causar, por exemplo, uma desorganização da apresentação de trabalhos no papel.
Memória de curto prazo ou “memória imediata”
Memória de curto prazo é a habilidade que permite reter na mente informações pelo período de tempo necessário para serem processadas corretamente. É vital para o processamento da leitura, pois esta envolve a habilidade de se ter presentes os padrões auditivos e visuais de letras e silabas que constituem uma palavra por tempo suficiente para que sejam colocadas na ordem correta. Da mesma forma, o leitor precisa ser capaz de reter na memória todas as palavras que fazem parte de uma frase ou parágrafo, a fim de compreender seu sentido.
Memória de longo prazo
É a habilidade para reter informações por um longo período de tempo. Por exemplo: rostos, nomes, poesias, odores, padrões de movimentos como a natação, etc. uma boa memória de longo prazo, para padrões lingüísticos ajuda na velocidade de leitura e soletração, entretanto a dificuldade em memória de curto prazo parece ser a mais relevante quando se trata da dislexia.
O disléxio na escola
Seria muito importante que todos os professores soubessem o que é dislexia. Havendo suspeita de que um aluno esteja apresentando algum distúrbio de aprendizagem, o melhor é não adivinhar ou diagnosticar, mas entrar em contato com a orientação pedagógica da escola, para mais informações sobre o aluno. Caso esse aluno já tenha passado por avaliações anteriores, é importante obter uma copia dos resultados para uma melhor observação. Com a devida orientação, o aluno conseguira ser bem sucedido em classe. A compreensão e assimilação da matéria são mais prováveis se houver clareza, repetição, variedade e flexibilidade no estilo de ensino.
O papel do professor com o aluno disléxico
1 Dê ao aluno disléxico um resumo do curso, se possível antes mesmo do início das aulas;
2 Avise no primeiro dia de aula sobre o desejo de conversar individualmente com os alunos que tem dificuldades de aprendizagem;
3 Detalhe todas as exigências, inclusive a matéria a ser dada, métodos de avaliação, datas de provas, etc…;
4 Inicie cada módulo com um esquema do que deverá ser apresentado naquele período. No final, realce de maneira resumida os pontos-chave;
5 Use vários materiais de apoio para apresentar a lição à classe, como: lousa, projetores de slides, retro-projetores, filmes educativos, demonstrações praticas e outros recursos multimídia;
6 Introduza o vocabulário novo de forma contextualizada;
7 Evite confusões, isto é, dando instruções orais e escritas ao mesmo tempo.
Quanto a tarefas de leitura:
8 Anuncie o trabalho com antecedência, afim de o disléxico poder, se necessário, arranjar outras formas de realizá-la, como gravar um livro;
9 Considere a possibilidade do trabalho em grupo;
10 Quando apropriado proporcione alternativas fora da sala de aula para tarefas de leitura, como dramatização, entrevistas e trabalho de campo;
11 Dê exemplos de perguntas e respostas para o estudo das provas. Expliquem quais são as respostas aceitáveis, deixando claro o porquê da escolha desse tipo de resposta;
12 Quando necessário, avalie o conhecimento dos estudantes com deficiência de aprendizagem usando métodos alternativos, como avaliações orais, provas gravadas, trabalhos feitos em casa e apresentações individuais;
13 Autorize o uso de tabuadas, calculadoras simples, rascunhos e dicionários durante a prova;
14 Leia a prova em voz alta e antes de iniciar verifique se todos entenderam o que foi pedido;
15 Aumente o limite de tempo para provas escritas.
Tipos de erros relacionados à leitura e à escrita
Quando não impossível o aprendizado, as dificuldades apresentadas, que são as mesmas para leitura e escrita, evidenciam-se por erros, como os abaixo como exemplificamos:
1 Confusão entre as letras simétricas: p e q, n e u, d e b, g e q: mandon (por mandou), deder (por beber), bringuedo (por brinquedo), foquete (por foguete), espuerda (por esquerda);
2 Confusão entre letras de formas vizihas: j e g, m e n: gegum (por jejum, nas (por, mas), moite (por noite);
3 Confusão entre letras foneticamente semelhantes: t e d, p e b, g e c, equivalente à consonância “que”: turante (por durante), tinda (por tinta), popre (por pobre), ceco (por cego), gomida (comida);
4 Inversão da ordem das letras dentro de uma sílaba: pal (por pla);
5 Leitura e escrita em espelho: so (por os), hi (por ih);
6 Substituição de uma palavra por outra de significado aproximado: A roseira era debaixo (por ficava debaixo), soltou o ratinho (por salvou o ratinho);
7 Adição de letras, sílabas ou palavras: fiaque (por fique), aprendendendo (por aprendendo), retarilho (por retalho), monte de que se elevava (por monte que se elevava).
8 Substituição de uma palavra por outra: Cecília (por Clícia), colateladores (por colaboradores), obrigado (por aborrecido);
9 Omissão de uma palavra numa frase quando a criança simplesmente a ignora ou não a tenta ler, dizendo que não o sabe fazer, ou hesita por demais na leitura dela, acabando por não ler (recusa).
Considerações Finais
Considera-se que a Dislexia, mais do que um distúrbio é um universo complexo contraditório que envolve aspectos neuropsicológicos, sócio-culturais e educacionais.
Considere que a criança com dificuldades de aprendizagem é uma criança cujo desenvolvimento se processou mais lentamente do que outras crianças. Não devemos considerar essa criança defeituosa, deficiente ou permanentemente inapta. As crianças com dificuldade de aprendizagem podem aprender.
Se o objetivo é ensinar a criança a ler, ensine a leitura e as sub-habilidades diretamente relevantes para isso. O objetivo é conseguir que a criança leia. Através de conexões expressivas de palavras e de imagens quando uma tarefa envolver aprendizagem associativa de rotina. Apresente letras misturadas naturalmente, em confronto com letras aos pares e sob várias circunstâncias.
As condições materiais com que a criança inicia as trocas com seu contexto são uma realidade a ser considerada. A dislexia pode ser vista como uma síndrome que carrega a possibilidade de seus portadores apresentarem dificuldades de aprendizagem, porém é uma história da criança que é constituído o seu desenvolvimento, o seu modo de pensar, sentir, agir e interagir com o mundo.
Portanto, podemos perceber que muitos professores não possuem conhecimento dessa dificuldade de aprendizagem, dificultando um diagnóstico para um possível encaminhamento e muitas vezes passando despercebido durante a alfabetização, causando um grande trauma para a criança com dislexia.
Referências Bibliográficas
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE DISLEXIA. Disponível em . Acessado 25/26 out. 2009.
DISLEXIA. Disponível em: .Acesso em 28 dez. 2009.
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FREITAS, Nilson Guedes de. Pedagogia do amor-Caminho da libertação na relação professor aluno. Rio de Janeiro: Wak editora, 2000.
IANHEZ, M.E. e NICO, Mª. Nem sempre é o que parece: vencendo as barreiras da dislexia. São Paulo: Alegro, 2001.
MYKLEBUST, Helmer. Distúrbios de Aprendizagem. São Paulo: Abril Cultural, 1972.
ORTON, Samuel. A Psicopedagogia e o Ensino da Arte. São Paulo: Artes Médicas, 2001.
Publicado por: LINETE OLIVEIRA DE SOUSA