O papel da psicopedagogia, frente a uma queixa de dificuldade na aprendizagem, seja ela de caráter primário ou associada a distúrbios psico-neurológicos, é investigar como aquele sujeito, particular e único, interage com os objetos e realiza essa acomodação. Para tanto, recorre a procedimentos para colher e analisar informações em busca de parâmetros para a compreensão do fenômeno. A matriz diagnóstica utilizada na elaboração dos procedimentos aqui descritos fundamentou-se na Epistemologia Convergente de Jorge Visca e em estudos sobre a aprendizagem da leitura, da escrita e da matemática. A Epistemologia Convergente é uma teoria que agrega contribuições de três áreas do conhecimento: psicologia Genética, Psicanálise e Psicologia Social (VISCA, 1994, p. 9 e 16).
Nessa abordagem, o sujeito é visto como uma totalidade psicossomática, em que, primeiramente existe um corpo (substrato biológico) inserido no mundo, que em interação com um objeto (ser maternante), desabrocha para uma consciência psíquica de si mesmo (eu psicológico — mente). Visca (1994, p.68) denomina esse pensar como um esquema referencial, e o vincula às teorias construtivista, estruturalista e interacionista. Construtivista,
segundo o autor, porque tanto sujeito quanto conhecimento vão sendo construído por etapas, a partir de sucessivas sínteses entre o que já se sabe e novas aquisições. Estruturalista, porque a construção que está surgindo é uma estrutura total, envolvendo a dimensão cognitiva e afetiva de forma interatuante, frente aos desequilíbrios. E é interacionista, porque para se construir uma estrutura é necessário haver interação com o outro e com o meio. A
aprendizagem ocorre na relação sujeito objeto, possuindo um aspecto cognitivo e um afetivo. Psicologia Genética é o nome dado à teoria nascida da investigação que Piaget empreendeu sobre a gênese da lógica no ser humano. Inicialmente era uma formulação epistemológica, mas buscando responder a sua questão de estudo, e não dispondo do homem pré-histórico para o intento, elegeu a criança como seu sujeito de pesquisa. Durante anos
analisou e descreveu as primeiras aquisições lógicas na criança o que resultou na elaboração de uma teoria do desenvolvimento e uma concepção de aprendizagem (MORO, 2002, p.118). As outras duas contribuições teóricas que compõem a Epistemologia Convergente são as advindas da Psicanálise, área que descreve o psiquismo humano e suas motivações inconscientes; e da Psicologia Social de Pichon-Rivière que analisa a influência de fatores
sócio-culturais na conduta dos sujeitos (VISCA, 1994, p.15). Uma avaliação psicopedagógica, segundo o modelo da epistemologia convergente, usará recursos diagnósticos provenientes dessas três áreas. O sujeito realizará atividades que forneçam subsídios a uma compreensão de seu desenvolvimento no que tange à cognição
e vínculos afetivos estabelecidos com objetos e situações de aprendizagem. Visca (1994, p.68) considera três categorias de obstáculos à aprendizagem: epistêmico, epistemofílico e funcional. A interrupção ou lentificação no desenvolvimento cognitivo do sujeito, caracteriza o obstáculo epistêmico, e determina o nível de operatividade daquela pessoa. No obstáculo epistemofílico, existe um vínculo não aquedado com objetos e situações de aprendizagem, desencadeando um estado afetivo alterado que, segundo a teoria, pode se manifestar como uma ansiedade confusional, esquizo-paranoide ou depressiva; agindo de forma predominante, alternada ou coexistente.
referência:
https://educere.bruc.com.br/cd2009/pdf/2756_1730.pdf